terça-feira, 13 de setembro de 2011

Zeca Camargo Entrevista Sade!!!


Era para ser só a entrevista com Sade. Mas não sei o que deu nesses artistas: todos eles resolveram dar entrevistas na semana passada. O “Fantástico” tinha recebido ofertas de ninguém menos do que Coldplay, Joss Stone, Sade, Tony Bennet (já explico!), Mick Jagger e Peter Gabriel – todos entre os dias 06 e 09 de setembro, em cidades tão distantes quanto Austin (Texas), Nova York e Londres. Todos os convites, claro, tentadores – mas como resolver essa “logística”? Tive de escolher – ou melhor, tivemos que nos organizar. Claro que o programa quer todos esses nomes de prestígio – é isso, entre outras coisas que justifica o nome “Fantástico”! Mas era humanamente impossível uma pessoa só fazer tudo (para você ter uma ideia, o Coldplay e a Sade eram no mesmo dia, 7 de setembro, a primeira em Londres e a segunda em Austin…). O que fazer?
A primeira medida foi dividir a tarefa. Meu colega, Álvaro Pereira Jr. – daqui do “Fant” também – também ficou interessado em fazer algumas delas. O resto foi decidido no mapa: eu ficaria com a “perna” dos Estados Unidos, e ele com a de Londres. Contando assim, parece que tudo foi muito simples, uma decisão muito racional. Mas foi justamente o contrário: a emoção falou bastante na hora de escolher. Porque eu sabia que queria fazer uma entrevista com Sade – eu estava esperando mais ou menos 25 anos por esse encontro! Teria sido até mais fácil para mim ir a Londres – eu voltaria na sexta-feira, e não no sábado, em cima da hora para os compromissos do “Fantástico”. Mas na hora de “bater o martelo”, eu fui categórico: eu queria ir para Austin conversar com Sade.
Com esse arranjo, Bennett e Joss Stone entraram no “pacote” – e eu fechei a minha “trifeta”! Se você está estranhando o primeiro nome – o que esse “senhor” de 85 anos ainda tem para dizer? – eu já vou adiantando que ele está mais ativo do que nunca, animado com o lançamento de seu novo álbum, mais uma coletânea de duetos, com gente tão interessante quanto Lady Gaga e… Amy Winehouse (essa foi a última gravação dela num estúdio antes de morrer, em julho último). A conversa com ele, que (confesso) eu achava que seria “difícil”, foi deliciosa. Você pode imaginar quantas histórias tem um cara com mais de sessenta anos de uma carreira de sucesso – que já cantou com nomes que vão de Frank Sinatra a, bem, Amy! Falamos por quase meia hora e, tenho certeza, poderíamos ter fechado outros 30 minutos de pura diversão. Um clima ótimo, um cara lúcido, um grande artista – enfim, uma entrevista bem legal como você vai ver em breve.
Já a entrevista de Joss Stone foi ao ar ontem – se você não conseguiu ver, é só conferir aqui. Foi feita na última sexta-feira, depois de uma maratona de viagens – São Paulo, Dallas, Austin, Nova York… Eu acumulava pouquíssimas horas de sono e estava um pouco com medo de que isso transparecesse na nossa conversa (se tem uma coisa que eu aprendi, em tantos anos de entrevista, é que o artista, para render bem, sempre quer ter 100% da atenção do repórter). Mas quando Stone entrou na sala, eu logo vi que era meu dia de sorte. Sua simples presença era mais que iluminada – Joss Stone é radiante e me “contaminou” com sua energia. Se ela mesma – que estava de passagem por Nova York por conta de outros compromissos – estava cansada, não deixava transparecer nem um pouco. E sua beleza… Bem, sempre a achei uma cantora bonita, mas ao vivo era ainda mais impressionante. E, como se não bastasse, ela estava totalmente à vontade. Tanto que nosso “tempo regulamentar” – aqueles 15 minutos básicos de qualquer entrevista com uma estrela do rock – estendeu-se por quase meia hora. E acho até que poderia ter ido um pouco mais adiante (para você que é fã, no site do “Fantástico”, procure o espaço do “Canal F”, nosso programa diário na internet: lá estão outros trechos dessa entrevista). Foi tudo de bom.
Mas nada, nem a simpatia de Stone nem a vitalidade de Bennett, superou a primeira entrevista da semana passada – meu encontro com Sade, em Austin.
Por uma enorme coincidência, a pessoa que me acompanhou nesse encontro era a mesma que foi comigo na entrevista de Paul McCartney no ano passado – e desde então tornou-se uma grande amiga e companheira de viagem. Minutos antes de Sade finalmente entrar na sala onde as câmeras e a iluminação tinham sido meticulosamente preparadas, essa amiga, provavelmente sentindo um certo nervosismo de minha parte, perguntou se estava tudo bem. Sem hesitar eu respondi que não – que eu estava mais nervoso do que antes do encontro com o próprio Paul McCartney (uma situação que, como eu já contei aqui mesmo, foi bastante tensa). Ela não acreditou, mas era a pura verdade…
Eu tinha, com já contei, bons motivos para estar nervoso com a chance de falar com Paul McCartney – para resumir em uma frase só, o que pesava mais nos meus ombros era a expectativa dos milhões de fãs que iam assistir àquela entrevista e que se sentiriam ali representados por mim. Eu não podia decepcionar – e isso me deixava bastante inquieto. Mas com Sade, a ansiedade tinha outra explicação: era uma questão pessoal.
Quando convidei você – leitor, leitora – a adivinhar quem era o meu ídolo que eu estava prestes a entrevistar, entre as pistas que dei, falei que a artista em questão tinha protagonizado um período importante da minha juventude, e isso tinha a ver com o meu nervosismo. Tem ídolos que transcendem a mera arte que oferecem, por ligações pessoais às vezes inexplicáveis – são conexões que você faz, por sinapses que não conseguem controlar, e que ficam com você para sempre. Com Sade foi assim. Eu era um “moleque” de 21 anos em temporada de mochila em Londres, fascinado (como sou até hoje) por música pop. Em algum lugar deste blog acho que já contei sobre o delírio de andar por uma cidade coberta de pôsteres de um soldado com as palavras “Meat is murder” pintadas no capacete – uma campanha massiva de lançamento do segundo álbum dos Smiths (àquela altura – e talvez até hoje também – a coisa mais perto da perfeição pop que eu já conheci).
Se essa era a visão que me acompanhava de dia, a música de Sade era minha trilha sonora para a noite. Em todos os clubes que eu ia (e foi essa a primeira chance que eu tive de explorar de verdade essa cultura da cidade – a “club culture”), sempre tinha um momento em que o DJ soltava “Smooth operator”, para o delírio de todos os presentes. Não tenho um registro muito preciso dessas festas – bebia-se muito nessa época, você entende… Mas o que ficou na memória foi uma atmosfera única de aventuras, de descobertas, de paixões instantâneas, de possibilidades… E tudo isso “regado” a muita Sade. A foto icônica da capa do seu álbum de estreia (umas das “top 10” na minha lista até hoje) já fazia parte do meu imaginário – bem como a outra imagem, absurdamente linda, na capa da (hoje extinta) revista “The Face” (ainda quero fazer um dia um post só sobre ela!). E tudo isso contribuiu para eu colocar Sade num pedestal dos mais altos no meu ranking de ídolos. Um ídolo, aliás, que eu nunca tinha a chance de encontrar…
Nos anos 80, quando eu ainda nem trabalhava como jornalista, meu sonho modesto era assistir a um show dela. Porém, eu ainda não viajava tanto como hoje… E as poucas vezes em que eu estava num país por onde ela iria se apresentar numa turnê, as datas nunca coincidiam – ou eu iria embora antes de ela chegar, ou eu chegava no lugar dias depois de ela já ter tocado por lá… Quando comecei a escrever em jornal, fiz várias resenhas idolatrando seus trabalhos seguintes (lembro-me em especial de um sobre “Stronger than pride”), sempre na tentativa de causar uma boa impressão, caso pintasse uma entrevista. Que, claro, nunca pintava.
Desde o final dos anos 80, Sade fechou-se para o mundo – pelo menos para o mundo do show business. Casou-se, foi morar na Espanha, e decidiu que seu contato com a imprensa (e com os fãs) seria apenas pelos seus discos, e por raros shows. E minhas esperanças de um dia entrevistá-la só iam diminuindo. Enquanto eu estava na MTV, no começo dos anos 90, ela lançou “Love deluxe” – e eu achei que teria alguma chance, afinal… era a MTV! Não foi dessa vez. Em 2000, quando eu já trabalhava no “Fantástico” (um programa por onde passam estrelas da categoria de Sade), ela veio com “Lovers rock”. Mas não abriu a boca… Quando “Soldier of love” foi lançado no ano passado, eu já nem me preocupei em correr atrás – sabia que o esforço seria inútil. Mas então, há pouco mais de um mês, com as notícias de que Sade viria pela primeira vez ao Brasil , surgiu enfim uma oportunidade: ela concederia a graça de uma entrevista – e uma só – antes de chegar ao Brasil. E o programa escolhido para isso era justamente esse em que eu trabalho! A sorte, finalmente, sorriu para mim!
Todos esses dias de antecipação foram extremamente excitantes. Eu tinha que tentar não “hiperventilar” toda vez que pensava que isso iria acontecer. E você pode imaginar o efeito que essa expectativa acumulada teve em mim quando finalmente faltavam apenas alguns minutos para eu encontrá-la. Para piorar um pouco o clima, nada menos do que quatro pessoas vieram falar comigo antes do momento decisivo, sempre com um recadinho na linha: “você sabe que Sade não gosta de dar entrevistas, então procure não aborrecê-la com suas perguntas”… Isso é meio normal nesse ambiente de bastidores – faz parte de um certo terrorismo que todo mundo adora fazer, mas que no caso de Sade, tem um fundo de verdade. Só que eu estava firme: não estava lá para aborrecer meu ídolo, tudo que eu queria era fazer uma boa entrevista!
E, sem muito aviso, de repente, lá estava Sade na sala! Vestida como uma garota prestes para sair para uma noite de balada, com roupas bem esportivas e coloridas, ela foi imediatamente simpática. Perguntou meu nome e quis saber como era a pronúncia correta – algo raro nesses encontros (geralmente o artista ouve algo como “zác”, parecido com o apelido de Zacharias, e nem se incomoda em pronunciá-lo novamente). Sade repetiu “Zeca” quase sem sotaque, e eu vi nisso uma boa oportunidade de começar uma conversa informal, enquanto os microfones eram instalados e seu maquiador dava os últimos retoques naquele rosto lindo que nem de longe entregava seus 51 anos…
Eu falei que ela deveria ter sentido na pele o que era ter seu nome (que corretamente soa algo como “chadey”) pronunciado de inúmeras maneiras erradas. Ela achou graça e contou que era mesmo um problema – mas que por outro lado ela detestava seu nome “oficial”, Helen… Rimos disso, e quase não percebemos quando o cinegrafista disse que já estava gravando tudo. Começar a entrevista para valer, depois disso, foi fácil… Esse bate-papo ajudou não só a deixar Sade relaxada, certa de que a conversa seria boa, como fez com que eu também desencanasse da carga emocional que eu tinha trazido comigo. E, por conta disso, lá estávamos nós falando por bem mais do que o “tempo regulamentar” (insisto nisso, porque é um motivo de orgulho para mim quando consigo, com simpatia e boas perguntas, convencer o artista a ser mais generoso do que seus agentes permitem…).
Falamos de amor – que é, claro, um de seus assuntos favoritos. Falamos de decepção – sobretudo com pessoas que você sempre contou como amigas. Falamos de isolamento e dos caminhos que a levaram a isso. E falamos de música, de novas vozes, do prazer de compor e cantar. Mas se eu contar demais, vou talvez tirar a graça da própria entrevista que você vai ver, mês que vem, no “Fantástico”. O que eu quis fazer hoje era apenas dividir com você – leitor, leitora, fiel de já quase 5 anos (o aniversário está chegando!) – um dos momentos mais especiais de toda minha carreira de jornalismo. Você é sempre tão generoso (generosa) com sua atenção, que o mínimo que eu posso fazer é retribuir com essa passagem de extrema felicidade para mim.
(Também fiquei feliz com boa parte dos comentários que foram enviados sobre o vídeo que eu postei sobre o “bullying” do “Pânico”, na quinta-feira passada. Foi bom ver que não estou sozinho na busca de um bom senso – e quem sabe um pouco de graça – na tentativa de definir o que é humor nesses desconcertantes dias de “vale tudo” que vivemos. Achei graça até mesmo dos comentários que me classificavam como “arrogante” – como se o próprio ato de perseguir alguém oferecendo uma coisa que esse alguém não quer, como se todo mundo tivesse obrigação de abaixar a cabeça para um programa que acha que é engraçado não fosse uma forma explícita de arrogância… Mas o mais divertido mesmo foi ver eles “descontando a raiva” do que eu escrevi aqui no programa de ontem… Nada como rir por último… “Noves fora”, acho que ficou claro que o grande embate nessa questão não é bem de audiência, mas sim de inteligência… Mas eu, claro, divago – esse assunto já deu…).
O refrão nosso de cada dia
“Funny face”, The Sparks – sim, sim, outra homenagem aos anos 80. Quer dizer, tecnicamente aos anos 70. Essa dupla enlouquecida surgiu em 1970, nos Estados Unidos, mas literalmente atravessou décadas oferecendo jóias pop – em letras e ritmos enlouquecidos. Mas “Funny face”, uma de minhas favoritas do Sparks, é de 1981. O refrão, como tudo que eles fazem (até hoje!) é muito bom. Mas tente prestar atenção também na letra para ter o que eu poderia chamar de “um prazer prolongado”… Quantas músicas teriam a coragem de falar sobre um rosto que não aguenta mais ser tão bonito? O primeiro verso é: “I looked a lot like a ‘Vogue’ magazine” (“Eu parecia muito com uma revista ‘Vogue’ ”) – e por aí vai…

7 comentários:

Diana Costa disse...

Amei e sinto toda emoção que ele quis passar.
Eu acho que nem conseguiria falar nessa hora ;) rs

Anônimo disse...

Quando a matéria vai ao ar?
é realmente Fantástico...

Eduardo Siqueira disse...

A materia ira ao ar em outubro no minimo um domingo antes do show eu espero nao sei ainda a data,pois o Zeca nao publicou ainda.
Abraços!!!

Angela Arenare disse...

Sade tb protagonizou um período importante da minha juventude e faz parte da trilha sonora da minha vida. Ela realmente transcende a mera arte. Estou contando os dias e as horas para vê-la... 25 anos de espera...finalmente!

Anônimo disse...

Olá Zeca,assim como você, sou fã da Sade e me identifiquei com cada pedacinho de sua matéria, a cada linha sentia o arrepio de um dia, por obra do acaso, ou da sorte, pudesse por alguns instantes estar ao lado dela. Incrivelmente ao ler matéria, meus pensamentos e desejos se misturavam a suas expectativas, a sua emoção. Me peguei no fim do texto com o coração batento forte e um leve suor nas mãos, como seu estivesse a ponto de encontrá-la. Claro, que estarei no show dela em SP no Ibirapuera, gostaria mesmo de estar bem próximo ao palco, mas a parte financeira me impediu. Mas estar lá, será a realização de um de meus sonhos. Parabéns por sua entrevista e fico feliz por vc ter sido priveligado ao realizar seu sonho e vontade. Abraços Cláudio Ribeiro - São Lourenço - MG

Lília Gusmão disse...

Zeca , imagine só um de nós ; simples mortais, pertinho dessa MUSA, tenho certeza que não iria conseguir falar nada, essa mulher é um mito e estamos todos incrivelmente boaquiabertos, jamais pensei que a Sade pudesse pisar no Brasil (pela pouca cultura musical que temos) mas para minha surpresa total , temos uma quantidade enorme de pessoas com bom gosto musical afinado. Seria um sonho mesmo ir á um show da Sade aqui na Bahia, vou fivar aguardando sua matéria, vou gravar e guardar . Parabéns, sinta-se um imenso previlegiado.Quem me deras....

Lília Gusmão disse...

Zeca , imagine só um de nós ; simples mortais, pertinho dessa MUSA, tenho certeza que não vou conseguir falar nada, essa mulher é um mito e esramos todos incrivelmente boaquiabertos, jamais pensei que a Sade pudesse pisar no Brasil (pela pouca cultura musical que temos) mas para minha surpresa total , temos uma quantidade enorme de pessoas com bom gosto musical afinado. Seria um sonho mesmo ir á um show da Sade aqui na Bahia, vou fivar aguardando sua matéria, vou gravar e guardar . Parabéns, sinta-se um imenso previlegiado.Quem me deras....